Regresso de Fernando Mora Ramos, agora como encenador, a um texto que representou nos idos de 1978 no Centro Cultural de Évora, dirigido então por Mário Barradas, autor da tradução que em boa hora se recupera, “A Noite dos Visitantes” foi o primeiro passo de Peter Weiss na reabilitação de um teatro popular, aproximando-se de formas artísticas tais como o teatro de marionetas, o Grand Guignol ou o Kabuki japonês. Espectácuo para todas as idades, trata-se de uma parábola em verso popular, rimado, com uma forte dimensão caricatural, clownesca, em que o lúdico se alia ao rigor na busca de uma estética antinaturalista.
Para Fernando Mora Ramos, esta «é uma peça sobre a cobiça, a violência imperial, o direito de morte sobre terceiros que quem tem armas pode impor, o assédio sexual, o direito do mais forte ao que quiser, a tortura, a ameaça, o terror, mas também sobre a manha, a astúcia, o fingimento adequado à resistência em situação, a mentira bem urdida para iludir e ser eficaz por razões óbvias, isto é, as armas que os mais fracos podem intuir e usar num contexto de luta pela sobrevivência.»
Gaspar Rosa Rosinha invade a casa de uma família camponesa. Frederico, o pai de família, inventa a história de uma arca abandonada e enterrada com ouro para distrair e dissuadir o invasor. É por este incumbido de procurar a arca, enquanto a mulher e os filhos ficam ao dispor do terrível visitante. «Não nos mate, por piedade», rogam em coro. Eis que surge um segundo visitante, inicialmente pela calada, à escuta, depois penetrando o território ocupado. Entretanto, o pai regressa com a arca supostamente cheia de ouro. Dá-se uma grande batalha entre os ladrões, da qual resulta enorme mortandade. Escapam duas crianças. Quando finalmente abrem a arca, descobrem o pouco que lhes resta para reconstrução do futuro.
Autor de um teatro politizado e documental, Weiss realiza nesta peça uma alegoria do esbulho imperialista. Sendo referida ao final da Segunda Grande Guerra, ilustra de modo simples, mas eloquente e deveras pertinente, como o saque dos recursos naturais acaba por manchar de forma infame a justa vitória dos “libertadores”. Assistindo nós hoje a todo o tipo de invasões e de ocupações, a peça de Weiss ganhou renovada actualidade. Teatro iminentemente físico, bastante divertido, que na encenação de Fernando Mora Ramos adquire também uma componente musical e ritmada com sublinhados assaz expressivos.
Com interpretação a cargo de Fábio Costa, Hâmbar de Sousa e Tiago Moreira (Teatro da Rainha), Benedita Mendes, Miguel Brás e Sónia Botelho (Teatro das Beiras), “A Noite dos Visitantes, de Peter Weiss, conta ainda com dispositivo cénico de Fernando Mora Ramos, iluminação de William Alves, criação sonora de Tiago Moreira, figurinos de Rafaela Ciríaco da Graça, operação de som e execução de instrumentos musicais de João Nuno Henriques.
Mais informações em teatrodarainha.pt .
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